terça-feira, 27 de maio de 2008

Asas no jardim

e ficou no meio...
o tato, sem as pontas dos dedos.
o cheiro, sem o gosto.
o desejo, sem a curva da estrada que traz a surpresa da paisagem.
Como a montanha russa que pára segundos antes da descida
No susto, a fúria, o vazio.
dormi, acordei...
acordei?
Por fora tudo volta ao normal...
Na rua, mais um dia.
Ninguém percebe diferença.
quase ninguém...

Mas estavam lá!
discretas e retorcidas em meio a grama.
Assim como eu.
E só eu vi.
Quis guardar...não, deixei ir.
Só eu vi.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Refazendo

Assim foi há muito tempo
...
Casa vazia.
Sonhos órfãos.
Desejos confusos.
Um grito...
Onde está a porta?
Tempestade na alma de retalhos que balança ao vento sem saber pra onde ir.
Cada passo, todos em falso, descem a ladeira do tempo.
Esperando encontrar o caminho,
Um abrigo,
Para esse coração que bate descompassado.
Voo confuso de borboleta atordoada em busca de algum sentido.
O casulo não existe mais.

...

Hoje,
o coração continua descompassado
A casa não está mais vazia
As janelas se abrem para a tempestade
Ainda tenho as asas da borboleta
se ainda voa atordoada e vai de encontro ao vidro da janela,
já conhece o caminho e segue em frente

Outras palavras IIII

se vou morrer afogado..., se vou morrer afogado..., se vou morrer afogado, por que então em nome dos sete deuses insanos que governam o mar, me permitiram chegar tão longe, a ponto de enxergar a areia e as árvores? (...) Se essa velha tonta, a Sorte, (...) tinha decidido me afogar, por que não fez isso no começo e me poupou todo esse esforço?.
O Bote
Stephen Crane

terça-feira, 20 de maio de 2008

Outras Palavras III

Do Vento

Arnaldo Antunes

Alimenta o fogo
atormenta o mar
arrepia o corpo
joga o ar no ar

leva o barco a vela
levanta os lençóis
entra na janela
leva a minha voz

nuvens de areia
folhas no quintal
canto de sereia
roupas no varal

tudo vem do ven-tudo vem
do vento vem tu-do vento vem
do vento vem tudo
tudo bem

sacode a cortina
alça os urubus
sai pela narina
canta nos bambus

cabelo embaraça
bate no portão
espalha a fumaça
varre a plantação

lava o pensamento
deixa o som chegar
leva esse momento
traz outro lugar

tudo vem do ven-tudo vem
do ven-tudo vem
do vento vem tu-do vento
vem tu-do vento vem
do vento vem tudo
tudo bem

é cedo ainda

O sol aquece a nuca
A sombra no papel
imprime o sentimento
Se move com a respiração
denunciando a expectativa no coração
Calma!
É cedo ainda

domingo, 18 de maio de 2008

Outras Palavras II

O último Por do sol
Lenine
A onda ainda quebra na praia,
espumas se misturam com o vento.
No dia em que você foi embora, eu fiquei
sentindo saudades do que não foi
lembrando até do que não vivi, pensando em nós dois
Eu lembro a concha em seu ouvido,
trazendo o barulho do mar na areia.
No dia em que você foi embora,
eu fiquei sozinho olhando o sol morrer
por entre as ruínas de Santa Cruz lembrando nós dois
Os edifícios abandonados,
as estradas sem ninguém,
óleo queimado, as vigas na areia,
a lua nascendo por entre os fios dos teus cabelos,
por entre os dedos da minha mão passaram certezas e dúvidas
Pois no dia em que você foi embora, eu fiquei
sozinho no mundo, sem ter ninguém,
o ultimo homem no dia em que o sol morreu

sábado, 17 de maio de 2008

Minha terra sou eu

Cheguei!
Essa sou eu!
Caminho longo até descobrir esta ilha.
Vista de longe, quieta e constante
vista de perto imprevistos e surpresas.
No mesmo lugar,
em harmonia,
a energia de uma queda d´água
a força de uma árvore centenária
a delicadeza de flores miúdas
Vou ficar por aqui um bom tempo
até que o vento sopre e transforme a paisagem.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Domingo

Se tudo pode acontecer…acontece.
melhor, impossível.
Teatro pequeno, a musica tão perto quase dava pra tocar na poesia.
Estava lá a poesia.
Nos olhares trocados, no sorriso do companheiro de aventuras,
na lembrança certa das feridas do passado e na expectativa do futuro.
A poesia é uma janela por onde entra o perfume da paisagem q já não está mais lá.
A mesma janela deixa soprar a brisa do que virá.
O orgulho das conquistas, a lágrima da dor curtida, o desejo, a alma na voz, tudo estava ali.
se tudo vai acontecer, que aconteça.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Laranja

O traço da nuca,
tímido,
espera pelo calor da mão.
Depois, a respiração.
são segundos que se sonham eternos...
até amanhã.
o perfume sutil desperta furioso
tal qual ressaca no mar de desejo