segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Quando eu crescer quero ser diferente

Quando eu era criança, gostava do iogurte de maçã.
Aquele que vinha numa cartela com outros quatro de morango e um de coco.
Era único!

Meu sorvete favorito era o de passas ao rum da Kibom.
Eu ainda não conhecia o chocolate amargo.

Eu tinha um urso de dormir.
Ele ainda existe em farrapos guardado no armário.
Condenado coitado.

Chico, Caetano, Bethania, desde sempre.
Pelo menos em alguma coisa nós concordamos.

Robocop? Não, Jacques Tatit.

Passeios de férias ao centro da cidade.
Brincava de pular os degraus do Ministério da Fazenda dois a dois.
Contava os azulejos decorados do painel do MEC.
Me premeditava, um dia vou andar por aqui apressada e importante.
Apressada muito, importante não tanto.
Quando conquistei minha liberdade, foi para o Centro que corri.

Ainda sinto o cheiro daquela cidade e não era o mesmo de hoje.

Casar, eu? De jeito nenhum.
Só se for na praia. Ou num relicário.
Quero morar sozinha.
Carro? Não, moto.
...

Tudo isso porque fui hoje fazer compras.
Lembrei que sempre fui diferente.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

mãe sem mãe

Sinal fechado, a criança de uns dois anos se pendurava pelo braço da mãe mal humorada e chorava muito.
A mulher que deve ter sim seus problemas, ignorava o choro da cria, só puxava-lhe o braço para evitar que ela sentasse na calçada.
A menina não tinha dois anos completos. Estava cansada e queria colo. Só.
Hesitei, sei que mães detestam intervenções extra terrestres ao seu padrão de educação dos filhos.
O sinal abriu, e lá ia a mãe arrastando a menina.
Não me contive, foi demais.
A menina não tinha dois anos completos, na boca escancarada só três dentinhos.
Me ofereci a ajudar e peguei uma pasta que ela carregava e pedi que pegasse a filha.
Ela pegou e, praguejando, anunciou umas palmadas ao chegarem em casa.
Ela provavelmente se sentiu envergonhada, não pelos maus tratos à filha mas, por ter recebido a minha ajuda e os olhares de critica da população que atravessava a Avenida Rio Branco. Descontaria na filha sua frustração.
Nem sei dizer o que me deu vontade de fazer.
Devolvi sua pasta e saí.
Minha consciência implorou que eu acreditasse que ela no fundo era uma boa mãe tendo um dia ruim e me lembrando em letras miúdas que eu não sou a mãe do mundo.
Uma criança tão pequena nem entende por quê a mãe está tão irritada.
Fiquei triste o resto do dia.