segunda-feira, 31 de maio de 2010

Das Pedras


Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim.
Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.
Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.

Cora Coralina

Viajar!!!!!


Faz um tempinho que não faço uma viagem daquelas, sem pressa, sem rumo, pé na estrada e fé na vida.

Minha alma é viajante... se não saio do lugar não frutifico.
Preciso ver coisas novas, cidades, ares, pessoas, poeira da estrada.
É verdade que nos últimos anos fiz uma outra viagem igualmente rica em experiências que foi ter minha filha. Hoje ela já mostra a que veio e será sem dúvida uma excelente companheira de aventuras.

O Brasil é infinito e não conheço nem metade. O resto do mundo... Nem quero pensar que precisaria de duas ou três vidas para conhecer tudo que sonho, além de algum dinheiro extra.
Dos destinos que já pus na mala, alguns me completam e sinto falta como quem sente fome... Voltarei sempre que puder para beijar o chão, sentir o cheiro e a energia.

Minas Gerais é toda especial, tem lugares maravilhosos e um povo acolhedor. A variedade de paisagens com geografias diversas, formas, cores e cheiros, e a comida então, nem se fala. Serra do Cipó, Diamantina e a aquela paisagem lunar a sua volta, Tiradentes singela, Belo Horizonte com aquele trânsito louco...e claro Pampulha.
Ouro Preto, minha favorita, com suas ladeiras de pedra, o frio, a cachaça, o cheiro de madeira velha encerada, guarda minhas histórias e ousadias.

No Rio, tem Paraty, pequena e gentil entre o mar e a montanha, seus barcos coloridos, as ruas de marés, amigos, amores, um sonho e um destino.

Goiás, além de Brasilia com seus muitos motivos bons e ruins pra não esquecer, tem Goiás Velho, Terra de Cora, lugar mágico. Tem o fim do asfalto pra quem segue pro oeste, tem também inúmeras cidadezinhas fora do circuito que só quem é curioso descobre seus segredos. João Fernandes é uma, com uma arquitetura patchwork de modernismos.

De Goiás à Bahia, vi sertão, vilas no meio do nada com galinhas e crianças correndo pra se esconder do movimento estranho, casinhas com cerca e jardim de mandacarú, cidades fantasma e a Chapada Diamantina, também cheia de surpresas e desafios. Ai que saudade!!

Indo mais longe, de volta ao oeste selvagem rsrs a Chapada dos Guimarães... Imensidão de paredões de fogo que até hoje incendeiam minha memória. No seu caminho, muitas plantações a perder de vista de soja, algodão e girassol. Lindo. Muitos buracos na estrada também. A opção mais gentil eram as estradas secundárias.

Viajar é muito bom. Junto, sozinho, de férias ou a trabalho, atrás de um amor ou de si mesmo. Em hotéis de luxo ou só com o dinheiro do sanduiche da hora do almoço.
De carro, trem ou bicicleta... Avião não gosto muito mas é um mal necessário. Barco...não obrigada. Asas prontas.

sábado, 29 de maio de 2010

"Come on, come on,

Come on, come on
Now, touch me, babe.
Can't you see that I am not afraid?"

Não tenho mais medo.
Mergulhei tal qual o Louco, de cabeça em seu caminho.
É o início de uma nova história.
Jim Morrison já explica até demais.
Por muito tempo me poupei e protegi.
Abri mão de mim.
Me lanço agora no meio da multidão.
Sozinha! Sem armas e sem exercito.
Mas com todas as estrelas que eu puder partilhar.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Encontro

Dançou na chuva e seguiu pra casa sem pensar.
Mais tarde, sem nenhuma vontade de voar, ficou em seu quarto.
Da janela, via o movimento da rua, resolveu se debruçar para ouvir o que falavam.
Risos...você vai? Não sei, pode ser...
Que triste essa alma flutuante...
É livre e não tem porto.
Se parte antes do amanhecer, sente a perda da luz no orvalho.
Se decide ficar, o vento não sopra suas cores para outras árvores.
Canta.
Minha alma hoje fica... mas amanhã quererá ir.
Te seguir talvez...
Ou dar a volta no sentido contrário para encontrar por acaso em outro hemisfério e degustar a surpresa.

domingo, 16 de maio de 2010

Coisa de mulher

Acho que finalmente fiz as pazes com meu lado mocinha. Sempre fui moleque, apesar de não gostar de me sujar, andava basicona por aí, sem maquiagem, desodorante sem perfume, sabonetes suaves, cabelo naturalmente solto, assim assim. Na verdade, nunca tive muita paciência para enfeites, cremes e cores, apesar de ser curiosa no assunto e achar bonito nas amigas. Pois bem, estou me rendendo ao meu outro eu que estava escondidinho. Já vinha experimentando uns colares, brincos, um gloss de vez em quando, comprei até um curvex. Mas a ultima fronteira foi olfativa. Perfumes sempre me deixavam um pouco incomodada, e passar cremes no corpo era chato demais, melequento demais. Bem, depois de alguns anos a gente aprende a gostar de uma massagem, e nada melhor depois de um raro banho sem pressa, que um creminho e uma massagem. Descobri na verdade não um creme, um spray de hidratante, bem mais suave. E quanto aos perfumes, os florais têm me feito muito feliz.
O melhor de tudo isso, ...é me permitir ser a mocinha de vez em quando.


sábado, 1 de maio de 2010

Cortazar é sempre precioso

Rayuela
Cap.07

Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua.