domingo, 25 de dezembro de 2011


Um mês
Tempo passado em nuvens de absurdos
Nesse tempo, me apressei em equilibrar os pratos que sobraram na bandeja.
Sem prestar atenção, fui deixando o tempo curar o estrago causado pelas irresponsabilidades da alma.
Por vezes, quando prestes a perceber o vazio, virava a cara e olhava para outro lado, sem querer contar os minutos sem sua presença.
Sua não presença é tão absurda quanto sua presença ausente de hábito, o que me faz não compreender o que aconteceu e igualmente não posso explicar o que ainda me prende.
O som que vem de dentro ainda espera uma resposta mesmo que de um eco vago no escuro.
O limo do fundo, revolvido com a maré ainda não assentou.
Ainda passa em nuvens de desgosto e de uma realidade propositadamente ignorada, nublando um sentimento em que eu acreditava ou pensava acreditar.
Por vezes, um delírio se instala e quer tudo de volta. Mas a memória é cruel e me arremessa de volta à realidade da parede com toda força.
É quando dói.
...ainda...


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Mais um conto para distrair a morte

O dia difícil, dolorido, ganhara uma tempestade ensurdecedora.
Ali, presa entre os livros, a chuva lá fora e os ventos aqui dentro,
me peguei pensando qual o significado de tudo aquilo.
Um trovão pareceu me dizer
Renda-se!
Desista!
Pare!
Depois da chuva, me encontro com o que fora arrastado pela água.
Mais a deriva do que nunca, voltei pra casa sem mim.
Me deixei vagando pela rua, devastada, a procura dos pedaços do que eu mesma parti.
Dormi afogada pelos meus pesadelos e acordei cinza.
Segui mecânicamente mais um dia desejando em vão voltar para o sonho.
Ainda perdida, apelo a Cherazade e conto mais uma noite.
Agora estou aqui novamente sem rumo, sem vento, sem chuvas, sem mim,
que saí pela porta e não sei quando vou voltar.


Sempre em desassossego me encontro


[10]
E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe
de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados.


O livro do desassossego
FP

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Máscara


Com os olhos cegos,
já não se via mais.
Personagem ausente de si mesmo,
inexistente ao outro,
escondido sob camadas inventadas,
sem identidade,
morre só,
não existiu.

domingo, 4 de setembro de 2011

Tartaruga, Mãe Terra

Hoje cedo, tomei coragem e fui pedalar tentando buscar forças para encarar meu domingo de trabalho. 
Céu azul, friozinho de inverno ainda, se eu ficasse em casa correria serio risco de ficar de pijamas o dia todo. Precisava da energia para o trabalho. Energia mais mental que física.
Peguei a bike, o celular já estava com os fones prontos e fui.
O aterro lotado, fui guiando devagar dei minhas voltas de rotina e encerrei na Kombi do coco, onde sempre paro para hidratar. Sempre tem algum grupo de formandos fazendo a clássica foto de turma em frente ao Pão de açúcar, hoje não foi diferente. Comprei meu coco e sentei na mureta da beira das pedras. Estava cheio de gente, mas eu só ouvia a música dos fones. Fiquei ali olhando o mar e dali a pouco ela surgiu. Botou a cabeça pra fora d´água para respirar deu um mergulho e sumiu. Era uma enorme tartaruga!!! Fiquei ali esperando. Olhei em volta, ninguém parecia ter notado sua aparição. Ou então eu é que não estou acostumada com o fato e me senti privilegiada. Depois de uns minutos, lá veio ela de novo, e depois outra vez, e outra. Juro! ninguém estava notando!!! Pensei em chamar a atenção mas tive a impressão que ninguém ia se importar por ser uma tartaruga e não um saco plástico, então resolvi desfrutar sozinha da sua companhia e me apropriar do seu recado. 
Chegando em casa, fui buscar meu livro pra traduzir a mensagem que acabara de receber. E aí vai.

"Tartaruga...Grande Mãe,
Alimente meu espírito
Agasalhe meu coração
Para que eu possa servi-la também.

Nos ensinamentos dos índios norte-americanos,a Tartaruga é o símbolo mais antigo do Planeta Terra.É a personificação da energia das deusas e tb da eterna Mãe ,da qual derivam nossas vidas.Nós nascemos das entranhas da Terra e nossos corpos retornarão para a necessidade de honrar a Terra e respeitar a necessidade de dar e receber,dando para a Terra aquilo que dela recebemos. 
A Tartaruga possui uma carapaça similar àquela empregada há milênios pela Terra para proteger-se das profanações das quais é vítima. A proteção da Mãe Terra manifesta-se nas mudanças que ocorrem em sua superfície,nos abalos sísmicos,na atividade vulcânica,que faz surgir novas porções de Terra e nas alterações climáticas 
Assim como a Tartaruga,vc tb possui carapaças que o protegem da inveja,do ciúme,das agressões e da inconsciência alheia.O Totem da Tartaruga o ensina, por seus padrões de comportamento, a saber se proteger. Se você está sendo incomodado pelas palavras e ações dos outros é tempo de se recolher dentro da sua carapaça para demonstrar que vc não pretende aceitar estes ataques passivamente.É hora de lançar um sinal de alerta. 
Se você tirou a carta da Tartaruga,é sinal de que você está sendo convidado a honrar a fonte curadora que existe em seu interior,a buscar uma conexão maior com a Terra,e a observar sua própria situação atual com compaixão maternal. Use as energias da Terra e da água -as duas moradas da Tartaruga-para ver sua situação presente de vida fluindo de maneira harmoniosa e para fincar firmemente seus pés na Terra num lugar de poder. 
A Tartaruga é uma excelente professora da arte de encontrar uma ligação maior com a Terra. Usando o poder de cura da Tartaruga,você será capaz até mesmo de superar sua tendência de viver no Mundo da Lua.Aprendendo a manter os pés no chão ,vc será capaz de focalizar melhor seus pensamentos e suas ações,aprendendo a relaxar,a desacelerar e a encontrar a paz que possibilitará a concretização de seus ideais 
Com sua calma proverbial a Tartaruga o adverte do risco de tentar "apressar a corrente do rio" .O milho colhido antes do Tempo não atinge a plenitude,mas se deixarem que ele amadureça em seu próprio ritmo,ele se desenvolverá bastante e servirá de alimento para um número maior de pessoas 
A Tartaruga enterra seus pensamentos na areia ,como faz com seus ovos,deixando ao sol a missão de choca-los.Isto a ensina a amadurecer suas idéias antes de deixa-lás virem a Luz.Lembre se da antiga fábula da Lebre e da Tartaruga e decida por si mesmo se você vai se alinhar com a Tartaruga ou coma sua oponente .Ser grande ,forte e rápido não são necessariamente os melhores requisitos para se atingir um objetivo,pois quando vc chegar à sua meta podem lhe perguntar onde esteve, e talvez vc não seja capaz de responder esta pergunta.Neste caso chegar prematuramente à meta pode fazê-lo sentir se muito imaturo.Siga o fluxo da correnteza do rio. 
Se vc tirou a carta da Tartaruga isto é um prenúncio de um período na qual vc terá uma conexão maior com o poder da Terra e da Deusa Mãe que reside em seu interior. Não importa em que situação s emeteu,se vc pedir ajuda à Deusa Mãe ela resolverá o seu problema e trará abundância à sua vida."
Do Livro:Cartas Xamânicas de Jamie Sams & David Carson

Pois é, mais uma vez preciso e direto o recado. 

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Paraty



Rua do Fogo.

Soube depois, antiga rua de amores.
Andei por ali desavisada apenas sintonizando a energia das pedras do calçamento.

A caminho do pier, espiava as portas das casas e imaginava seus segredos. Algumas, embora conservadas, pareciam ocas, quase tristes, sem alma, sem gentes, sem fogo.
Mas nem mesmo esse clima de cenário consegue evitar que eu me emocione a cada vez que perambulo pelas ruas de calha por onde o mar se espraia nas marés de Paraty.

Não esperava te encontrar ali, já que passara pela cidade semanas antes. Mas num susto te vi passar, tão distraído quanto eu. 
Passei a caminhar a distância, te acompanhando sem pressa.
Te vi parar e admirar os telhados onde plantas teimosas crescem no limo das telhas. 
Passei por você novamente sem chamar a atenção. Entrei numa rua e contornei o quarteirão tentando adivinhar seu caminho. Esperei te surpreender na próxima esquina de onde vinha o som de um acordeon melodioso, um convite naquela manhã cinzenta e de ar frio e úmido. 
Eu estava certa, lá estava você observando a musica. A moça que tocava o instrumento era bonita e tinha um sorriso sereno que não se desfazia nem por um segundo. Eu parei misturada às pessoas e você, no seu tempo, não percebeu minha presença.

Logo despertei do desejo que era tão real quanto sua presença.
De fato, você não estava ali. 
Segui um tanto melancólica como como se faz nesses momentos, mas feliz de ter partilhado com você aqueles poucos instantes. 
Durante toda a viagem, você me tornou a passar. 
Tão transparente e presente quanto a maresia.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Borges explica

Naquele preciso momento o homem disse:
"O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto."
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.

Nostalgia do Presente
J.L.Borges

domingo, 14 de agosto de 2011

Silêncio

De dentro, a velocidade do sangue me acorda.
Não importa quantos anos ainda viva.
Não importa o quanto já aprendi.
Ainda sou fraca,
ainda sonho,
ainda me perco,
esqueço.
A lágrima estala na página lida
A censura vem de dentro como se eu me olhasse no espelho.
Ainda fecho os olhos esperando q tudo mude ao acordar amanhã.



domingo, 31 de julho de 2011

Valei-me Cortazar!


Instruções para subir escadas


Ninguém deve ter deixado de reparar que frequentemente  o chão se dobra de uma maneira que uma parte sobe em ângulo reto com o plano do chão, e, em seguida, a próxima parte está colocada de maneira paralela a esse plano, dando vez a uma nova perpendicular, procedimento que se repete em espirais ou em linhas desiguais até alturas extremamente variáveis. Agachando-se e colocando-se a mão esquerda em uma das partes verticais e a mão direita na parte horizontal correspondente, logra-se a posse momentânea de um degrau ou escalão. Cada um desses degraus, formados, como pode-se ver, por dois elementos, está situado um pouco mais acima e mais adiante que o anterior, princípio que dá sentido à escada, já que qualquer outra combinação produziria formas talvez mais belas ou pitorescas, mas incapazes de transportar de um térreo a um primeiro andar.
As escadas se sobem de frente, pois de costas ou de lado são particularmente incômodas. A atitude natural é manter-se em pé, os braços dependurados sem esforços, a cabeça erguida, mas não o suficiente para que os olhos deixem de ver os degraus imediatamente superiores ao que se pisa, e respirando-se lenta e regularmente. Para subir uma escada deve-se começar por levantar essa parte do corpo situada à direita e abaixo, quase sempre envolta por couro ou camurça, e que, salvo exceções, cabe exatamente no escalão. Colocada no degrau dita parte, que, para abreviar, chamaremos de pé, recolhe-se a parte equivalente da esquerda (também chamada pé, mas que não se deve confundir com o pé anteriormente mencionado) e, levando-a à altura do pé, faz-se que continue até colocá-la no segundo degrau, com o que, neste, apoiará o pé, e no primeiro apoiará o pé. (Os primeiros degraus são os mais difíceis, até adquirir-se a coordenação necessária. A coincidência de nomes entre o pé e o pé torna difícil a explicação. É especialmente importante cuidar em não levantar ao mesmo tempo o pé e o pé.)
Chegando-se dessa forma ao segundo degrau, basta repetir alternadamente os movimentos até encontrar-se com o final da escada. Pode-se sair dela facilmente com um golpe ligeiro do calcanhar que o fixa em seu lugar, de onde não se moverá até o momento de descer.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Deixar acontecer

Me perdi
procurando respostas.
Me esqueci,
você não tem explicação.
Veio com o vento,
e no vento vai partir.
Não tem linha que te prenda
feito pipa em mão de menino.
Se tento te definir,
você evapora em silêncio
para depois,
aparecer novamente e permanecer por perto.
Parece esperar que eu aprenda a lição mais difícil.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

O bom e velho Chico

O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo

domingo, 17 de julho de 2011

Amanhã será outro dia,
mas adio o sono como quem tem medo do dentista,
como quem evita um olhar,
como quem não admite um erro para si mesmo.
Semana desastre,
fim de semana no poço sem fundo das minhas agruras,
domingo difícil...
Sentir algo tão perto e tão longe é de fato o maior dos pesadelos.



É como aquele sonho em que gritamos e a voz não sai.
Do outro lado da rua, você não me escuta e some no mundo.
Eu grito, espera!
você evapora.
Então acordo.
Se eu não dormir,
não vou precisar gritar,
você não vai sumir,
você não estará do outro lado da rua.

domingo, 10 de julho de 2011

Aprendendo a voar


Por um lapso, uma falha no encantamento que o deixa invisível,
percebi sua presença, neste labirinto silencioso.
Ali parado como um espelho, me reflete as avessas mostrando outra paisagem.
Não me vejo neste espelho, o que me assusta e ao mesmo tempo intriga e atrai.
Será que você me vê?
Será que te faço algum sentido?
Sigo, sem palavras, meu instinto
Deixo para traz o peso do entendimento.


O caminho,
já disse,
não carece direção.
Vai se mostrando aos bocados feito curva.
Neste momento só quero ser uma entidade flutuante
que segue guiada pelo vento.
Que sobe alto
e sente um frio na barriga
e vê a cidade lá de cima.
Na esperança de ver mais além,
acabo por encher a alma de pedras novamente
e desço.

Desassossegos de Fernando, e do Zé, da Joana, do Joaquim, da Maria...

Não o amor, mas os arredores é que vale a pena...
A repressão do amor ilumina os fenômenos dele com muito mais clareza que a mesma experiência. Há
virgindades de grande entendimento. Agir compensa mas confunde. Possuir é ser possuído, e portanto
perder-se. Só a idéia atinge, sem se estragar, o conhecimento da realidade.

sábado, 2 de julho de 2011


Se fecho os olhos 
viajo, 
Se abro, 
marejo.
Se durmo, 
trabalho. 
Se acordo,
perambulo.
Se desejo,
você não responde.
Se ignoro,
não respiro.

terça-feira, 31 de maio de 2011

O baile

Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a de um jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto, convidou-a pra rodar
E então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça, foram para a praça e começaram a se abraçar
E ali dançaram tanta dança que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda cidade se iluminou
E foram tantos beijos loucos, tantos gritos roucos como não se ouvia mais
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu
Em paz



Chagal, Chico & Vinicius

domingo, 29 de maio de 2011

Recorrendo aos santos em oração



















Eu quero a sorte de um amor tranqüilo
Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia
E ser artista no nosso convívio
Pelo inferno e céu de todo dia
Pra poesia que a gente não vive
Transformar o tédio em melodia
Ser teu pão, ser tua comida


Todo amor que houver nessa vida
E algum veneno antimonotonia
E se eu achar a tua fonte escondida
Te alcanço em cheio, o mel e a ferida
E o corpo inteiro como um furacão
Boca, nuca, mão e a tua mente não
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum remédio que me dê alegria


Cazuza & Chagal

sábado, 14 de maio de 2011

Dia de chuva e Cortazar

El breve amor
Con qué tersa dulzura
me levanta del lecho en que soñaba
profundas plantaciones perfumadas,

me pasea los dedos por la piel y me dibuja
en le espacio, en vilo, hasta que el beso
se posa curvo y recurrente,

para que a fuego lento empiece
la danza cadenciosa de la hoguera
tejiédose en ráfagas, en hélices,
ir y venir de un huracán de humo...

Por qué, después,
lo que queda de mí
es sólo un anegarse entre las cenizas
sin un adiós, sin nada más que el gesto
de liberar las manos ?

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Tempestade

Depois de três dias de ventos fortes
que reviraram memórias e sentidos
fechou a janela e tentou dormir.
O que sentia era uma vibração intensa.
o sangue correndo pelas veias,
relâmpagos ofuscando seus olhos e
trovões explodindo em seus ouvidos.
Parecia entorpecida numa pista de boate,
escura e barulhenta,
querendo controlar as pernas
que não queriam ser controladas.
Simplesmente dançavam.
Uma sensação de que daquele dia em diante
Nada mais seria como antes.
Nada mais teria a mesma cor
o mesmo cheiro
o mesmo som.

terça-feira, 29 de março de 2011

Agora vive!!!



















Não sabia como nem onde.
As pernas ainda tremiam.
Era cedo e já estava na rua.
Tonta, ainda pensando pra onde devia ir.
Tudo acontecia muito rápido.
O coração tinha assumido o controle da vida e ela se desprendeu do chão sem pensar.
De vez em quando olhava pela janela daquele voo cego e levava um susto. Essa sou eu??!!
Para em seguida ouvir de dentro:
Esquece! Sou eu seu que estou no comando agora!
Foi surpreendida por um sentimento de segurança e certeza que nunca tinha tido antes.
A paz era quase suspeita. Procurava sob as palavras e olhares as pistas dos problemas.
Nada.
Tudo muito simples e honesto.
Nada de jogos ou reticencias.
Tudo ali na vitrine do inicio ao fim.
Não era isso que você queria?
Agora vive!

terça-feira, 1 de março de 2011

Permissão para ser feliz

Numa página em branco, as palavras teimam em escorregar.
O passo apressado do coração,
o vinho, o vento, o sono,
me deixam transparente diante da voz que vem de dentro
e se pulveriza em um simples querer.
Ainda dissolvo a noite em gotas de realidade.
Em preto e branco repasso cada momento
para depois colorir de risos,
fechar os olhos e
apenas sentir.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

silêncio

"O poema

antes de escrito
não é em mim
mais que um aflito
silêncio
...ante a página em branco
(...)
O poema
antes de escrito
antes de ser
é a possibilidade
do que não foi dito
do que está
por dizer (...) Fica o dito pelo não dito - FGullar

...mais ou menos assim é o silêncio
silêncio que grita oco
dentro da caixa do peito
que nenhum entorpecente
é capaz de libertar
que nenhum broto de céu
pode lançar em voo cego
em direção à palavra

do amor escondido nos olhos
sobra o gosto seco do tempo

amar não faz sentido
se a voz é água represada em
toneladas de pedras

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Natal RN - Fragmentos de viagem

Aeroporto, mala, espera, voo, lanchinho econômico de avião, chegamos e mergulhamos imediatamente no universo da família.
Família, quando observada corretamente, explica muita coisa quando se trata de entender suas origens. Qualidades e defeitos podem ser vistos em volumes aumentados neste ou naquele parente, ficando mais fácil de se identificar aquele incomodo que às vezes se tem com determinado comportamento dos pais ou até seu mesmo e que não se sabe de onde vem. Pois é, quando se vê a manada se entende a zebra.
São quatro gerações, a original, vô Zé Luiz e vó Juraci, queridos mas já falecidos, os filhos e filhas que saíram de Natal e foram para o Rio ou para outras cidades ganhar a vida, os netos e agora os bisnetos. Juntando tudo isso, ou quase tudo, já que parte da família se mantém afastada por brigas e discórdias insuperadas, rende muitas histórias e muitas piadas.


Ponta Negra é um bairro e sua praia de mesmo nome me lembra a Barra há anos atrás quando da construção dos primeiros prédios. Muitas casas de centro de terreno, originalmente um conjunto de casinhas iguais que foram se transformando ao gosto do morador em anos de ocupação.  Há muitos centros de venda de artesanato, alguns shoppings, restaurantes, mas o comércio é pouco voltado para o morador local, prioriza o turista. Pra quem está acostumada a dobrar a esquina e comprar pão, andar léguas sob o sol até a padaria é uma experiência perturbadora.


Na praia, se vende de tudo, de comida a roupas, toalhas de mesa bordadas, artesanato e até musica. Carrinhos com auto-falantes a pleno volume passam sem parar com funk, pagode, forró, axé, tecno-eletro-dubs e afins vendendo seus cds. Piratas, lógico.


A luz é intensa, o dia amanhece as 5 ou 5:30 e não há horário de verão, então, as 6 já estamos de pé, as 9 já estamos cansados de estar em casa, mas sair requer alguma força de vontade, já que os tentáculos da família são longos e fortes e o sol lá fora já é tão forte quanto o de meio dia. É um ar puro, sem poluição. O céu à noite é cheio de estrelas. Bonito.

As histórias de violência na cidade aumentaram, mas nem se compara à banalização do crime do Rio de Janeiro. São roubos de quintal, invasão de casas de veraneio, assaltos no centro, golpes em turistas, etc..
Os taxistas são mal humorados. O morador local é discriminado e uma corrida curta gera muita reclamação. O bom e velho germe cretino do brasileiro que tanto quer se dar bem, já que o turista pode ser enrolado e gastar mais. Até o trocador do ônibus se faz de desentendido pra ver se cola, não devolvendo o troco da passagem.

O povo em geral é receptivo, meio bruto, mas simpático. As ruas são relativamente limpas. Não sei exatamente como por que não vejo lixeiras e nem garis... E falta educação e consciência. Muita gente joga lixo nas ruas e as calçadas são ocupadas por carros estacionados sem critério. Em termos de preços, a cidade se equipara ao Rio de Janeiro, porém os salários são bem menores, o que faz de Natal uma cidade muito cara para o morador. Os funcionários de lojas e restaurantes são visivelmente insatisfeitos, o que me faz crer em um regime exploratório de empregos.  

Um hábito me chamou a atenção. Demorei para descobrir, por que raios algumas garotas andavam com um band-aid na sobrancelha. Comecei a ver com certa frequência e desconfiar de alguma moda e até temer um serial-killer. Mas descobri que se trata de um ritual para os aprovados no vestibular. Os garotos raspam as cabeças, mas as garotas aqui raspam uma das sobrancelhas. Fica medonho! Mas o orgulho delas é grande.

Hoje, só uma semana depois de chegar, estive no centro da cidade, bairro da Ribeira e imediações com suas edificações antigas, muito art deco, simples mas bem característico, edifícios neo clássicos, neo coloniais, chalés... Mas infelizmente a maioria está bem deteriorada pelo tempo.


O comércio esconde as fachadas sujas com letreiros medonhos, o Iphan atua timidamente, o povo não aprecia nem reconhece valor nesses prédios. São prédios velhos que ninguém entende por que estou interessada. As igrejas principais e alguns edifícios importantes, estão relativamente preservados.


Vejo também muitos elementos de herança modernista, principalmente cobogós de várias formas e tamanhos usados fartamente para privilegiar a ventilação cruzada e, como muxarabi, para quebrar a visão de fora para dentro. Nas ruas próximas às margens do rio Potengi, onde ainda mora uma população ribeirinha, as casinhas ainda preservam suas fachadas de porta e janela com elementos decorativos e geométricos.

O Forte dos Reis Magos é uma pérola preservada. A obra de Câmara Cascudo é um bem inestimável para a cultura e história do povo brasileiro, e aqui, bancas de jornal não se encontram facilmente, se chamam cigarreiras e vendem de tudo.

A viagem segue...



domingo, 23 de janeiro de 2011

Almirante II

Almirante é minha casa
onze anos
muitas mudanças
amigos e histórias
É meu lugar
me sinto bem vinda todos os dias.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Na plataforma,
diante do trem às escuras,
sua imagem
refletida veloz no vagão
subitamente some
e o coração
é dragado pelo vácuo.
Neste momento ela acorda.