terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Eros e Psique

Fernando Pessoa


Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O Balão


Ele ficava na prateleira da loja
junto, um urso de pelúcia vestindo uma malha universitária, um macaco de feltro cor de rosa e uma arca de Noé de madeira com casais de bichos dentro.

Era vermelho e tinha uma cestinha de palha trançada com saquinhos de areia pendurados. Na verdade era mais um enfeite que um brinquedo. Pois não fazia sons ou luzes, não se movia sozinho nem servia para jogar ou dormir abraçado. Mas era um personagem perfeito para a imaginação.

A loja era divertida. Tinha muito movimento de crianças e os donos amavam os brinquedos.

Sempre que uma criança entrava na loja a diversão era adivinhar pelos seus olhos qual brinquedo ela buscava.


-Olha! Lá vem um menino!


-O que será que ele vai levar?


-Hum, pelo jeito moleque ele quer uma bola ou uma bicicleta.


-Não, sou eu!! Ele quer um Trem!! Ele tem cara de sonhador, quer viajar!


E assim passava o tempo...

Um dia entrou uma menina.
Pela mão da avó ela percorria os corredores da loja olhando tudo atentamente.

Os brinquedos se agitaram e começaram seu jogo.


-Ela está vindo pra cá!


-O que será que ela quer?


-Ah! Ela quer uma boneca, claro! Disse o carro de corrida com ar superior.


A menina pegou uma boneca grande, quase do seu tamanho...


-Eu não disse!!? Falou novamente o carrinho.


... e meio sem jeito devolveu na prateleira com um sorriso quase de desculpa.


Continuou sua busca.

O vendedor foi ajudar.


-Olá pequenina, o que você está procurando?


-Ainda não sei, ela respondeu.


-Que tal um jogo?


Aquele sorriso novamente.


-Uma casinha de bonecas?


-Obrigada, mas eu já tenho uma.


-Nossa, essa está difícil! Falou o palhaço de blocos coloridos de encaixar.


-Ohahhhh! Bocejou uma Barbie. Ela não parece que vai me escolher, então vou dar uma cochilada.


-Ela está vindo na nossa direção!! cochichou o macaco rosa.


-Ela quer um Urso!! É comigo pessoal! Ela está olhando pra mim!!!!


Na verdade, era para o balão que ela estava olhando.


-Eu quero aquele balão, vovó!


-Claro minha querida.


-O senhor pode trazer por favor? Pediu a avó ao vendedor.


A menina abriu um sorriso e seus olhos brilharam.


-É isso!! Ele é lindo! Adorei!


O balão ficou cheio de orgulho.

Finalmente teria uma criança para brincar.

Se despediu dos amigos e seguiu numa sacola com sua nova amiga.

Quando chegaram em casa, brincaram de exploradores, viajaram por terras distantes por longos dias na companhia de outros personagens.

O balão era um dos seus brinquedos favoritos, ela sempre dava um jeito de encaixá-lo nas brincadeiras.

Mesmo com a menina crescendo, ele estava sempre por perto.
Ficava pendurado por um fio no teto do quarto acompanhando sua amiga.

Quando a janela estava aberta, ele se movia com a brisa como de voasse de verdade.

Ela cresceu, e um dia mudou de casa. Numa caixa, guardou alguns brinquedos que levou consigo. Entre eles é claro, o balão. Esta caixa ficou um tempo no escuro do armário, até que um dia, a porta se abriu e a menina, já grande e um tanto redonda resgatou seus brinquedos daquele pretume.

Todos foram colocados num quarto de criança novinho, recém pintado e com um berço branco no meio.

O balão ganhou novamente seu lugar num gancho no teto, bem perto do berço.


-Pronto, daqui minha filha vai poder te ver voando!


O balão ganhou também uma nova amiga para novas aventuras.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

O eterno Deus Mu Dança

Desde criança adoro mudar os móveis de lugar.
É uma maneira de fazer circular a energia da casa e reorganizar meu universo particular.
Minha mãe chegava do trabalho e ficava louca quando entrava e a casa era outra.
Hoje, na minha casa, tenho essa mania ainda. A casa muda sempre.
Tem uma relação com meu espírito inquieto, geminiano, obsessivo.
Como as gotas de chuva que vão procurando um caminho para melhor escorrer e fluir, a energia da casa flui de acordo com a posição dos móveis seguindo um fluxo cotidiano de movimento das pessoas e objetos. Gosto de mudar estes planos de vez em quando. Gosto de me virar para buscar um copo e dar de cara com as panelas. Faz pensar e elimina o hábito. Provoca tropeços mas também cria surpresas.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Risoto de Camarão

Ingredientes:
Arroz, camarões frescos e aspargos
Temperos:
Sal, alho, cebola, paciência e dedicação.
Para beber:
Vinho.
Estava (muito) calor, então o vinho branco ganhou uma pedrinha de gelo e algumas rodelas de laranja.
Chovia torrencialmente, o pudim de leite da Joana sobreviveu à chuva mas não à mesa.
Amigos antigos, amigos novos... todos comemos, bebemos, rimos, alguns dormiram outros sonharam.
Assim foi o penúltimo dia de 2009, já com o compromisso do próximo jantar entre amigos.
Que 2010 seja cheio destes momentos.
Que este seja o primeiro de muitos outros jantares entre amigos!!