Coragem, para meus oito anos, era ir ao banheiro sozinha nas noites insones de pesadelos.
Para os 13, era me deixar levar pelo primeiro amor.
Para os 14, era deixá-lo ir embora e me jogar no mundo a procura de mim.
Quando aos 23 resolvi casar era ao mesmo tempo um ato de coragem e de completo pavor de ficar sozinha comigo mesma.
As escolhas nem sempre são simples e imediatas. O medo de ir por um caminho e perder o outro nos paralisa diante da porta aberta, do carro engrenado, da mão estendida.
Os anos foram passando, as coragens foram mudando de cor, de tempo e de forma. Algumas desistiram de mim, outras demoraram a amadurecer. Acho que não reguei corretamente e a cura foi tardia.
Tem coragem que já nasce com a gente, tem coragem que se aprende a ter. Tem coragem para uns que é medo para outros e tem coragem que se cria do medo. Eu nem menstruava ainda, mas já sabia que ia ter um filho. O medo de uma cesariana, que vi uma tia recém parida levar mais de um mês para se restabelecer, me criou a coragem de acreditar que, para mim, não haveria melhor opção que um parto mais que natural mesmo este sendo tão assombrosamente pintado e descrito como a maior das dores do mundo.
A coragem é volátil, os medos o vento e não há melhor sensação do que aquela que se percebe quando um medo antigo se transmutou em coragem e naturalmente aquilo que era impossível de se fazer se torna a mais nova realidade da vida. Basta chegar a hora certa, o momento da escolha entre pular ou dormir.
Coragem não é um ato irresponsável movido por um mero e insignificante impulso. Coragem se cultiva, se dá atenção, se respeita, se busca lá de dentro. Como aquela que depois dos trinta anos nos faz olhar para o espelho e sem as máscaras usuais dizer: Agora acabou a brincadeira. Vamos ter uma conversa olho no olho. Quem dá ouvidos a essa coragem e sai no dia seguinte nu, vai descobrir que ganhou mais uma ferramenta de sobrevivência, a aceitação do imperfeito.
Ainda tenho muitas coragens no meu canteiro esperando rega e uma conversinha de pé de ouvido. Tenho alguns medos também, que serão muito úteis para alimentar a coragem e desafiar o orgulho. O importante é que em qualquer tempo, é possível se ter nas mãos sua coragem e fazer o que se quer com ela. Seja mudar de profissão, enfrentar pela primeira vez uma platéia, realizar um sonho de infância, experimentar algo novo e impensado como viajar sem rumo ou viver mais quarenta anos ao lado de quem se ama.
Tudo é possível, especialmente numa noite em que a lua sorri para você.
Um comentário:
Belo texto..:)
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