terça-feira, 30 de agosto de 2011

Paraty



Rua do Fogo.

Soube depois, antiga rua de amores.
Andei por ali desavisada apenas sintonizando a energia das pedras do calçamento.

A caminho do pier, espiava as portas das casas e imaginava seus segredos. Algumas, embora conservadas, pareciam ocas, quase tristes, sem alma, sem gentes, sem fogo.
Mas nem mesmo esse clima de cenário consegue evitar que eu me emocione a cada vez que perambulo pelas ruas de calha por onde o mar se espraia nas marés de Paraty.

Não esperava te encontrar ali, já que passara pela cidade semanas antes. Mas num susto te vi passar, tão distraído quanto eu. 
Passei a caminhar a distância, te acompanhando sem pressa.
Te vi parar e admirar os telhados onde plantas teimosas crescem no limo das telhas. 
Passei por você novamente sem chamar a atenção. Entrei numa rua e contornei o quarteirão tentando adivinhar seu caminho. Esperei te surpreender na próxima esquina de onde vinha o som de um acordeon melodioso, um convite naquela manhã cinzenta e de ar frio e úmido. 
Eu estava certa, lá estava você observando a musica. A moça que tocava o instrumento era bonita e tinha um sorriso sereno que não se desfazia nem por um segundo. Eu parei misturada às pessoas e você, no seu tempo, não percebeu minha presença.

Logo despertei do desejo que era tão real quanto sua presença.
De fato, você não estava ali. 
Segui um tanto melancólica como como se faz nesses momentos, mas feliz de ter partilhado com você aqueles poucos instantes. 
Durante toda a viagem, você me tornou a passar. 
Tão transparente e presente quanto a maresia.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Borges explica

Naquele preciso momento o homem disse:
"O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto."
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.

Nostalgia do Presente
J.L.Borges

domingo, 14 de agosto de 2011

Silêncio

De dentro, a velocidade do sangue me acorda.
Não importa quantos anos ainda viva.
Não importa o quanto já aprendi.
Ainda sou fraca,
ainda sonho,
ainda me perco,
esqueço.
A lágrima estala na página lida
A censura vem de dentro como se eu me olhasse no espelho.
Ainda fecho os olhos esperando q tudo mude ao acordar amanhã.