terça-feira, 29 de junho de 2010

será?

"O que não é o que não pode ser"
E se for, como vou saber?
Se você não tentar nada saberá.
Mas por outro lado,
nada pode ser se não é.
E se basta imaginar que assim será,
forma tomará e a ideia vira fato
não por mágica ou por milagre
apenas pela soma de um desejo
que aglutina como gotas de mercúrio
o que não era nem em sonho
vira real e desconfio
estar sonhando.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Pitangueira

Tem uma pitangueira no meu quintal
ela vai crescer
e provavelmente me dar pitangas
se não fossem pitangas
seriam corações
pintados de azul

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Incêndio e a trombeta da copa

O que a Copa do mundo e as festas de Juninas tem em comum? Notei uma infeliz semelhança neste fim de semana.

Além do lado positivo da confraternização, da cultura dos povos, do caráter de festa, tem também o circo armado que nos cobre com uma lona de euforia mascarando a ignorância e a falta de discernimento do povo. 
Educação?? Pra quê?
Muito bonito o balé em campo, a cena comovente dos jogadores do Brasil e da Costa do Marfim se abraçando antes de entrar em campo, alguns mais outros menos efusivos, que me deram uma impressão de serem todos irmãos reunidos ali apenas pelo jogo e não pelo premio. Eu quase me emocionei, mas essa imagem durou pouco. Em campo a porrada comeu e trouxe junto, a ironia, a truculência e a falta de respeito. Mútua diga-se de passagem. Se isso tudo faz parte do circo, então é aí que eu desclassifico por completo esse jogo de cena onde sobra marketing. Não serve de exemplo de trabalho de equipe, superação e respeito.
Deste lado do atlântico, os torcedores extrapolam seus direitos e esquecem que ao seu lado alguém pode não estar a fim de ficar surdo com o som alto das trombetas ou da música de gosto duvidoso no máximo volume. Pior, seu vizinho, que cara chato, pode de repente querer entrar e sair de sua casa sem ter que pedir licença às mesas e cadeiras colocadas estrategicamente bloqueando seu portão.
São pessoas estranhas. Admito que desde criança me irrito com elas. Mas as respeito e nunca as incomodei com minha música ou minhas festas. Talvez, quando eu era bebê, eu chorasse um pouco alto de madrugada, mas passou depois de alguns anos.
Lá habitam três ou quatro gerações de pessoas sem noção nenhuma de educação e respeito pelo outro. Cresci vendo os adultos ensinando às crianças que hoje fazem o mesmo com seus filhos. Estou sendo intolerante, preconceituosa e chata..., são somente pessoas comuns querendo se divertir, beber e xingar palavrões. Pode ser. Mas há uma regrinha básica para se viver em sociedade que diz que seu direito acaba onde começa o do seu vizinho. E mais, que educação não se aprende na escola. Se aprende em casa.
E é a mesma educação que não permite que uma pessoa, por qualquer razão, faça algo que ameace a segurança e a paz de outra pessoa, muito menos por diversão. E é aí que entra o infeliz que não se preocupou nem um pouco com o que aconteceria caso aquele balão lindo, colorido, o maior de todos, o sou foda!!, caísse no quintal alheio.
Ele, como a grande maioria, está apenas querendo se divertir. Vai soltar seu balão por vaidade ou qualquer outra razão. Mas depois do que vimos no Morro dos Cabritos e do que não vimos no Grajaú e no parque da Pedra Branca, esta razão perde completamente sua importância. O que fica é destruição causada pela estupidez e ignorância.
De tudo isso fica o medo. Medo do circo, medo do voto distraído deste povo, tão cantado e contado pelos quatro cantos, filhos deste solo, tão carente de educação. Eu estou vendo nascer a terceira geração de carentes. Fora os que já viram antes de mim.
Muitos votos darão, certamente. Mas muitos incêndios também.
De resto, quanto aos vizinhos, só acharam minha família antipática por não querer estar lá, curtindo com eles no meio da rua, na frente do meu portão. Nada contra curtir a vida sentada numa cadeira na calçada como boa suburbana que sou. Mas eu sempre pus a minha cadeira na minha calçada e nunca vi minha mãe varrendo o lixo para a calçada vizinha.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Para José de José

Na ilha por vezes habitada

Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.


in PROVAVELMENTE ALEGRIA J. Saramago

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Soundtrack 1 e 3/4#


Esqueci de mencionar esse clássico!
Vou bate pra tu, Urubu tá com raiva do boi, Folia de Reis...

terça-feira, 15 de junho de 2010

O Guardador de rebanhos

Olá, guardador de rebanhos,
Aí à beira da estrada,
Que te diz o vento que passa?

Que é vento, e que passa,
E que já passou antes,
E que passará depois
E a ti o que te diz?

Muita cousa mais do que isso.
Fala-me de muitas outras cousas.
De memórias e de saudades
E de cousas que nunca foram.

Nunca ouviste passar o vento.
O vento só fala do vento.
O que lhe ouviste foi mentira,
E a mentira está em ti.

Alberto Caeiro

domingo, 6 de junho de 2010

Soundtrack 1#

Musica pra mim é um ingrediente quase fundamental. Quando não estou ouvindo, estou cantando ou dançando.
A depender da música, ouço como uma companhia, um estímulo, um mantra, um remédio, um entorpecente...
Tentei aprender a tocar piano e violão. Desisti. Não tenho talento nem a paciência e a perseverança necessárias. Me contento em ouvir, isso faço muito bem.
Quando eu era bem criança, os vinis de casa eram minha referência. Os únicos discos infantis de que me lembro eram aqueles vinis coloridos de histórias e um LP do Carequinha que eu tinha.
O que me marcou mesmo foram os discos da minha mãe: Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethania, Roberto Carlos, Secos e Molhados (eu adorava aquela capa) e algumas trilhas de novelas como Dancing Days e Estúpido Cupido.
Dancei muito pulando de disco em disco que eu espalhava pelo chão. Tinha um quê de "mamãe sou Chacrete" nessa brincadeira e me sentia a tal ouvindo Celly Campelo. No fim, acabava arranhando os discos.



De Chico, gostava da Geni e o Zepelim, aquele drama todo, aquela injustiça, me serviram de referência e exemplo do egoísmo humano. Eu devia ter uns cinco anos.
Bethania era mais grave, uma entidade quase. Quando a ouvia cantar Sem Açúcar, eu ficava tentando imaginá-la se transformando em um cavalo... Ainda me faltavam informações para isso.
A base foi essa, meus primeiros anos, mpb básica e incontestável. Ainda estavam por vir os 80.