quarta-feira, 19 de setembro de 2012

O sorriso na escuridão


Coragem, para meus oito anos, era ir ao banheiro sozinha nas noites insones de pesadelos.
Para os 13, era me deixar levar pelo primeiro amor.
Para os 14, era deixá-lo ir embora e me jogar no mundo a procura de mim.
Quando aos 23 resolvi casar era ao mesmo tempo um ato de coragem e de completo pavor de ficar sozinha comigo mesma. 
As escolhas nem sempre são simples e imediatas. O medo de ir por um caminho e perder o outro nos paralisa diante da porta aberta, do carro engrenado, da mão estendida. 
Os anos foram passando, as coragens foram mudando de cor, de tempo e de forma. Algumas desistiram de mim, outras demoraram a amadurecer. Acho que não reguei corretamente e a cura foi tardia. 
Tem coragem que já nasce com a gente, tem coragem que se aprende a ter. Tem coragem para uns que é medo para outros e tem coragem que se cria do medo. Eu nem menstruava ainda, mas já sabia que ia ter um filho. O medo de uma cesariana, que vi uma tia recém parida levar mais de um mês para se restabelecer, me criou a coragem de acreditar que, para mim, não haveria melhor opção que um parto mais que natural mesmo este sendo tão assombrosamente pintado e descrito como a maior das dores do mundo. 
A coragem é volátil, os medos o vento e não há melhor sensação do que aquela que se percebe quando um medo antigo se transmutou em coragem e naturalmente aquilo que era impossível de se fazer se torna a mais nova realidade da vida. Basta chegar a hora certa, o momento da escolha entre pular ou dormir. 
Coragem não é um ato irresponsável movido por um mero e insignificante impulso. Coragem se cultiva, se dá atenção, se respeita, se busca lá de dentro. Como aquela que depois dos trinta anos nos faz olhar para o espelho e sem as máscaras usuais dizer: Agora acabou a brincadeira. Vamos ter uma conversa olho no olho. Quem dá ouvidos a essa coragem e sai no dia seguinte nu, vai descobrir que ganhou mais uma ferramenta de sobrevivência, a aceitação do imperfeito.
Ainda tenho muitas coragens no meu canteiro esperando rega e uma conversinha de pé de ouvido. Tenho alguns medos também, que serão muito úteis para alimentar a coragem e desafiar o orgulho. O importante é que em qualquer tempo, é possível se ter nas mãos sua coragem e fazer o que se quer com ela. Seja mudar de profissão, enfrentar pela primeira vez uma platéia, realizar um sonho de infância, experimentar algo novo e impensado como viajar sem rumo ou viver mais quarenta anos ao lado de quem se ama. 
Tudo é possível, especialmente numa noite em que a lua sorri para você.

Um comentário:

Anônimo disse...

Belo texto..:)