quarta-feira, 17 de outubro de 2012

[107]


A sacola caída na entrada da casa deixava escorrer seu conteúdo no piso antigo, trincado de tempo.
Tinhas deixado um bilhete.
Não estava.
Minha mão gelada não conseguia girar a chave.
Sem forças para vencer a tranca, sento-me no degrau em frente à porta esperando que, em um instante, ela se abra e você apareça para o resgate.
Permaneço imóvel tentando me esconder de mim mesma.
Num momento de lucidez, quando a lágrima fria vazou o tecido da saia, me levanto, recolho a sacola e saio novamente.
Estou sem lugar.
Minha concha está vazia. As ondas invadiram meu refugio e levaram tudo que eu tinha.
Estou boiando sem pulso ouvindo o canto do mar.

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