sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Café da manhã

Era domingo de manhã de um Setembro nublado.
Saiu de casa sem muito a fazer, apenas comprar frutas e pão.
Ela atravessou a rua.
De longe o viu distraído, em frente à livraria.
Ele estava vestindo a velha calça xadrez e o casaco que ela havia lhe dado no ultimo aniversário antes da viagem que os separou anos atrás.
Não sabia o que fazer. Andar até ele e abraçá-lo como se fosse um dia comum e seguir juntos ao mercado como se o tempo não tivesse passado. Ficar de longe guardando as lembranças e deixando tudo como está.
Se deixou paralisar e deu as costas tomando outro caminho.

Ela sabia que ele voltara havia algumas semanas. Chegou a imaginar que ele a procuraria ou apareceria em sua casa de repente. Mas já havia acalmado o coração e esquecido o delírio até então.
Lembrou que o amava. Lembrou do medo que sentia por não saber como seria amar outra pessoa, como a mesma luz se acenderia dentro dela e como seria se deixar amar tão simplesmente por alguém diferente.
Mas o que era isso, do que estava falando? Isso já havia sido superado, ela já era feliz novamente, tinha sua vida, seu trabalho, já não chorava mais. Nunca mais chorou.
Aquela visão abriu uma janela para uma paisagem já sem cores.

Seguiu em frente e foi atrás das cores das frutas e do perfume do pão.
Pequenas coisas lhe davam imenso prazer.
Atravessar a rua numa manhã de poças d´água respirando umidade das árvores e o vento frio eram um acontecimento.
Os olhares para ela eram outros. Ela estava viva e se via na paisagem completamente leve.
Um homem magro, de cachecol e olhos falantes atravessou no sentido contrário e prendeu segundos da sua atenção e respiração. Sentiu um frio na barriga. Foi como se ele, com os olhos, tivesse levado um pouco de sua alma.
Seguiu mais leve ainda por isso.

Um comentário:

Lu Lima disse...

Post originalmente postado em 01/09/2009